domingo, 29 de agosto de 2010

malditos sejam os poetas

malditos sejam os poetas
por já terem dito tudo aquilo
que eu queria dizer
por terem dito mais do que
eu sequer sonhara em dizer
malditos sejam eles,
por terem dito melhor
coisas que eu nunca poderia dizer.

Malditos sejam os poetas
por cantarem as minhas dores
por chorarem meus amores
malditos sejam os poetas
que versaram até mesmo sobre
as cartas, aquelas, ridículas,
e cantaram vasos gregos
e vozes veladas,
e noites tropicais
e viagens à Pasárgada.

malditos sejam os poetas
que cantaram os doze anos
antes mesmo de eu os ter vivido
e falaram das palmeiras
que eu nunca tinha visto
evocaram recife, o porto
as docas, as putas as carniças

malditos sejam os poetas
por terem feito tudo aquilo
que me emociona e me enche o peito
embarga a voz e escorre a lágrima
aperta o nó, embota os olhos
corre amargo e doce pela garganta
e queima no fundo do estômago
tal qual cachaça ouro
malditos sejam vocês, poetas
por tantas vezes me fazerem sorrir.
 

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

do fundo do baú - parte 2

Abril de 1988 - Casa da Vó Marica e da Tia Rosita. O ovo, eu e a Lola
Mã, eu e Lolô
Eu bem faceira com uma boneca horrorosa que eu amava.

Deu vontade de mostrar quando eu era pequenina. bons tempos, aqueles.

domingo, 22 de agosto de 2010

do fundo do baú

mais uma "pérola" que achei durante minha faxina, num pedaço de papel:


Valeu a pena investir tanto tempo, tanta energia, tanto amor?
Agora que os dias são belos e frios eu visto meu agasalho, me conforto.
E tudo que quero é comer um quindim

sábado, 21 de agosto de 2010

Entre as ondas

O velho marinheiro que
perdeu as graças do mar
é velha caravela
sem vela
já não pode navegar

E se já perdeu
o encanto de se perder
perdeu o prumo
perder o rumo
navegar
navegar

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Achei esse texto hoje, escrito pelo meu próprio punho numa folha de caderno, no meio dos textos lidos na graduação. tem junto uma linha de flauta, só dizendo as notas, sem tempo sem nada, e o título diz "Música". Não lembro de ter escrito, até procurei na internet para ver se não era letra de alguma canção que eu tinha na cabeça na época. Não achei nada. Imagino que tenha sido escrito numa aula de literatura portuguesa, pela inspiração navegativa. Não sei se gosto, mas fica postado aqui como registro de uma época. A data é de 18/11/06

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Leis

É, talvez eu seja uma garota que se perdeu em meio à tantas coisas que havia para serem vistas.
Ou talvez eu seja uma mulher que se encontrou em meio à tantas coisas que estavam perdidas.
Talvez ainda haja muito para ver, muito para se perder, muito para se encontrar.
Talvez eu me encontre, talvez me perca. Talvez te encontrarei um dia, talvez esse dia nunca chegue.
Talvez eu acorde e perceberei que estou ao teu lado, ou então, talvez eu durma e aí sim esteja contigo.
Talvez as coisas nunca tenham sido feitas para serem achadas, talvez elas nunca se percam de fato.
Talvez seja tudo um sonho, ou talvez sonhemos com a realidade...

Tanto paralelismo, tanta relatividade... Einstein, Murphy, Newton... Tantas leis, tanta ordem... Mas... talvez... talvez, quem sabe

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Medusa

E era como se, por onde passasse, os jardins petrificassem e o mundo brilhasse sob pálida e gélida luz.

Tudo era belo, mas não lhe pertencia.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

É tudo um grande engano


Eu queria, meu bem, eu juro que queria saber fazer joguinhos.


Seria bem melhor pra mim, acredite.

Mas eu também queria que você soubesse que eu não te amo. Nem sequer estou apaixonada. Você é ótimo, é verdade. Mas vale bem menos do que pensa.

E eu valho bem mais do que você me credita. A verdade é que possivelmente eu sou a melhor coisa que passou pela sua vida nos últimos tempos, com todo respeito a todas as mulheres que você comeu. E que não foram poucas. Mas eu sou melhor que elas, eu sei. Eu sinto.

Não se espante, não te quero pra marido, namorado, nada dessa coisa de vivermos eternamente juntos e sermos felizes para sempre. Não. Eu só queria te ter mais uma vez. Só mais uma. Sabe aquele lance "te levo pro motel, te como direitinho, de deixo em casa com beijinho de boa noite e acordo amassado em casa, sozinho"? Então, bem isso. Estou nessa vibe também.

Acontece que você pensa que eu sou outra coisa, que eu quero outra coisa. Mas não. Sei que a culpa é minha: o sangue italiano me deu essa coisa de ser intensa, chorar, gritar, rir, gemer e amar com muita facilidade. Mas olhe, se assuste não: é só sexo.

Agora vê se larga disso, venha cá e coma-me, por favor.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Solidão, que nada.

"Ganhei" essa música de presente hoje. E não é que gostei? Amigos são uma coisa boa demais, sô!

Solidão, que nada 
(Cazuza)

Cada aeroporto
É um nome num papel
Um novo rosto
Atrás do mesmo véu

Alguém me espera
E adivinha no céu
Que meu novo nome é
Um estranho que me quer

E eu quero tudo
No próximo hotel
Por mar, por terra
Ou via Embratel

Ela é um satélite
E só quer me amar
Mas não há promessas, não
É só um novo lugar

Viver é bom
Nas curvas da estrada
Solidão, que nada
Viver é bom
Partida e chegada
Solidão, que nada

Amigos de há muito.





domingo, 8 de agosto de 2010

Palavras de amor ao léu

entre os que desdenham e os que juram amor demais, eu fico com um bom samba, cachaça e saudade.

eu só queria saber direitinho por onde andarão nossos caminhos.

ou queria saber fazer joguinhos. queria não ligar. queria entender vossas cabeças.

sim, tem horas que eu queria ser homem, bêbado e sambista. maldita sociedade falocêntrica.

é que, por mais inocente que seja, ainda há alguma poesia na bebedeira dos velhos poetas.

mas tudo isso não passa de paranóia feminina, você dirá. dirão todos. direi eu, inclusive.

o que ninguém sabe, desconfio, é que bastariam poucas coisas para essa paranóia passar.

maldita tpm.

Eu te darei o céu, meu bem

"Eu te darei o céu, meu bem, e o meu amor também".

Aquela era a canção deles, e nenhum dos dois entendia o porquê. 

Não foi assim que tudo começara. A bem da verdade, sequer sabiam como havia começado. Ainda hoje não sabiam se havia começado, se havia mesmo acontecido. Ela, ao menos, não sabia precisar. Mas lembrava-se de, em algum momento achar que aquilo não passaria de mais uma piada noturna em que esperava-se que ela dissesse a ele, 

"Te farei supor, vaidoso, que és o maior e que me possuis".

Ao passo que ele, falsamente, prometeria-lhe, 

"Abra os braços pra me guardar, que eu todo vou me entregar: Começo, meio e fim".

E, a despeito dessas promessas, eles bem sabiam como continuaria aquele verso, com a chegada do dia:

"Já não vales nada: és página virada, descartada do meu folhetim".

Então seria esse o pacto. estava selado, juramentado. Da mesma forma que os contratos no papel que eles expadiam durante o dia, daquela forma se firmavam os acordos da noite. O deles não teria por que ser diferente.

Mas foi.

Ele não soube explicar se foi porque nela os cabelos exalavam um cheiro exótico, ou se foram as pernas, que lhe prenderam num abraço mortal da jiboia durante o sono, do qual ele não quis se libertar.

Ela não sabia dizer se foi porque adormecera com a cabeça em seu peito, falando amenidades que não lembraria no dia seguinte, ou se fora o carinho inesperado recebido enquanto dormia.

Ambos desconheciam o motivo, que era muito mais simples do que aparentava: nos braços um do outro eles adormeceram, como não faziam com ninguém desde há muito, sem a pressa de fugir de si, sem a necessidade de explicar-se, sem a obrigação de ser alguém. 

Sabiam que não poderiam continuar, que o pacto deveria ser cumprido, pelo bem da esposa dele, do marido dela, do trabalho na firma, do emprego em que ela, secretária do colega, não dirigia a palavra a ele, exceto em raras ocasiões. Sabiam que aquela noite seria única. E ela sabia que teria que dizer o que lhe ia pela cabeça ali, naquele universo que não pertencia a ninguém, antes que ele se esvaísse com o tempo.

E foi assim que, sofrendo com a inesperada dor que os alcançara, as últimas palavras dela, logo antes de saírem daquele quarto de hotel pardieiro, ficariam gravadas na memória, nas paredes sujas, nos móveis, nos lençóis encardidos:

"Esse amor me derreteu. Ajoelha-te e esquece: me chupa e agradece a quem te machuca. Agradece, meu Deus".




segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Receita para curar soluço

Aperte o dedo médio da mão direita, na altura da primeira junta (entre a primeira e a segunda falange).

Em seguida, tome água; três goles, na posição normal. Depois tente tomar os mesmos gole de ponta cabeça.

Após isso, tome um susto, daqueles de morrer três vezes.

Volte para o copo d'água: um copo inteiro, sem respirar.

Agora dê três voltas em um pé só.

Se nada disso adiantar, olhe para o homem que te faz sofrer e mande-o à puta que o pariu.

Sucesso garantido.


(para o Ev, que sofreu uma crise de soluços, de causa aparentemente desconhecida)