segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Amormeuzinho,

Meu amor, como passou rápido! Faz um ano que a gente se prepara pra esse dia, e ele chegou! 

Olhando mais para trás, quanta coisa vivemos, quantos problemas cada um de nós enfrentou até chegar aqui... E quantas coisas boas também passaram tão rápido que o que aconteceu ainda ontem parece que foi há séculos... Por isso, pra mim, os nossos desafios na vida são dois: fazer as coisas boas durarem e as ruins passarem rapidinho.


Eu sei que entro nessa história bem preparada, com as roupas e as armas que você me deu:  

 o teu bom humor, o teu sorriso e as tuas piadas infames... 

Com tua preguiça da manhã e com o jeito sonhador.

 Mas entro, acima de tudo, protegida pelo teu amor, carinho e pelo teu imenso e infinito cuidado. 

 E eu espero, sempre, que você saiba que pode contar comigo. Pra todos os barracos e perrengues;

pra todas as gripes e febres e pra todos os choros gratuitos e não gratuitos; 

pra todas as festas de família e pra todas as feijoadas, pra todas as tardes preguiçosas no sofá e pras viagens boas atrás dos nossos sonhos



 Pras panquecas do domingo de manhã e pras noites mal-dormidas em frente à televisão.



.Amar é uma companhia, e isso a gente aprendeu bem rápido. E, Pessoa bem tinha razão, já não sabemos andar sós pelos caminhos, porque já não podemos andar sós

Então, Amormeuzinho, o que eu tenho pra te pedir aqui, agora, é: Caminha comigo até o fim das nossas vidas, mesmo que tudo passe num piscar de olhos?

 com todo o meu amor,


Lara

terça-feira, 21 de agosto de 2012

De quando ele me tomou para si e nunca mais eu consegui fugir. Até porque eu nunca mais quis. Mas isso ja é outra história...

Tem coisas que entram pra dentro da gente, quando a gente está assim, distraída, a olhar pro lado.

Foi assim que você chegou. Ainda lembro que eu estava a refogar abobrinhas, tão preocupada com a textura delas. Éramos muitos, e nós, aquelas três, tigresas, nos ocupávamos em dominar o ambiente. Eu ainda mais, porque sei que sou mesmo convencida.

Mas, no meio disso, você chegou.

Chegou e passou direto por mim. Enquanto eu falava alto e ria, disfarçando o nervosismo e espiando a porta com o rabo dos olhos. E nada de você. E eu tremi. E temi.

Naquela noite, eu dancei. Pavoneava, inseguramente parecendo dona de mim. E você me olhou. Só olhou, com seus olhos miúdos que nada deixam de ver.

Como nas histórias da criança, foi daquele jeito: um beijo, outro, depois, no outro dia, mais um. E mais um dia, e outro.

Então eu fui embora. Você  prometeu me ver. E, de repente, você já era parte constante de mim.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Preciso me encontrar

do grande mestre, Cartola.

http://www.youtube.com/watch?v=HN0_mN7fWa8&feature=player_embedded#!

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar...

Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir prá não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar...

domingo, 25 de setembro de 2011

Como sempre

Ainda sinto o cheiro de cigarro na boca, entre os dedos, preso eternamente às narinas. Aquele cigarro roubado, todas as vezes, já virou marca que nos une. Da mesma forma, o gosto amargo da cerveja bebida, a cada semana, confunde nossas cabeças e faz ver mistérios onde não há.

Você, na verdade, são vocês. A noite, em verdade, são muitas noites. E os beijos e os gostos, bem, esses são muitos também. mas vocês pensam que são únicos, e eu lhes deixo crer. Deixo viverem na fantasia de que são os maiores e que me possuem. Deixo que acreditem numa paixão desmesurada. Deixo que pensem que eu sou frágil e que suas masculinidades me podem machucar.

Assim vocês se vão enredando, perdendo o senso. E, quando tu - ou seriam vocês? - acordares, ela - ou seria eu? - não estará mais ao seu lado, evaporada com a primeira luz da manhã.

Acredita, amor, que toda mulher te pode amar. Mas assim, aviso, viverás tua perdição.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Antes do amanhecer

"Na vida é assim, a gente encontra o cinismo e perde a cerveja, a decência e o copo, tudo de uma vez só."

Foi assim que ela me disse, num fim de noite num bar qualquer. Na verdade não era um bar qualquer, era um bar decente, daqueles que a gente só encontra do lado das igrejas, nos cafundós da cidade.

Ela não era bonita, e nem sabia mesmo dançar. Além disso, reclamava o tempo todo que não deveria estar ali, pois era mulher de família. Isso, entre um gole e outro de cerveja. Mas, naquela noite, ela nos tinha a todos na mão: literalmente, ela era quem pagava a bebida. E, verdade seja dita, ela até não era má companhia. Nós quatro, cheios de gana e de hormônios, queríamos muito aquela companhia, adulta e feminina, entre nós. Era possível que quem nos olhasse percebesse o brilho carniceiro que cruzava os nossos olhares, quase lascivos, quando mirávamos nossa patrona.

Mas a moça não sabia muito o que fazer, quando o fim da noite era iminente e o retorno ao lar se aproximava. Foi aí que ela se engraçou com um malandro que passava, e havia voltado a cabeça para melhor apreciar aquelas pernas dela - sim, permitam-me dizer: a danada tinha uma pernas tão compridas que pareciam capazes de abraçar o mundo. 

O vagabundo tinha jeito de quem batia em mulher. E, foi ela quem nos disse, cachorro e macho a gente reconhece pela cara. Pois aquele bem tinha cara de cachorro. Macho que eu já não sei, porque dessas coisas eu passo longe. Mas o fato é que a desgraçada olhou pra ele, olhou pra nós, aqueles quatro garotos que não sabiam nem onde se enfiar quando ela falava algum palavrão - e ela falava tantos! - e não teve dúvidas: sem pensar no marido e nas quatro crianças sujas que deixava em casa, mandou dizer pro pai que não voltava mais e subiu na moto branca do infeliz. A última coisa de que me lembro foram aquelas palavras dela, seguidas das do João Filé:

"putaqueopariu, a vagabunda levou o dinheiro e deixou a conta pra pagar"

...

Alice Maria, esse era seu nome. Ninguém nunca mais ouviu falar.



.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

De livros, de saudade e de melancolia

Aos vinte e um anos a gente é jovem e o mundo é cheio de possibilidades. O meu era, entretanto, cheio de melancolia. Uma melancolia linda, como são as tardes frias e ensolaradas. como são, também, as dedicatórias de livro.

Minha vida era uma eterna dedicatória de livro: aquela coisa cheia de amor, carinho, possibilidade, esperança e melancolia.

Amor, sim, e carinho, pois não conheço quem escreva dedicatória com o intuito de magoar a quem se escreve.

Possibilidade e esperança, sim, pois cada dedicatória, escrita antes de iniciada a leitura, pretende que o destinatário goste daquele livro tanto quanto nós gostamos.

Melancolia, sim, porque, como tudo que é perene, a dedicatória destina-se a tornar-se passado depois de lido o livro.

E a Vida era dedicatória porque assim transcorriam os dias, cheios de amor, saudade, possibilidade e passado.

Estudava literatura portuguesa e Manoel, meu professor, mandava-nos ler Eduardo Lourenço e sua Mitologia da Saudade. Aquelas aulas eram cheias de sol, com a fala mansa de quem vem do Ceará. lembro de quase dormir embalada pelas palavras do Manoel, e tudo me parecia doce. Camões e sua lírica, de uma doçura banhada de decadência. Inês de Castro, n'Os Lusíadas... talvez eu sonhasse um amor que me coroasse mesmo depois de morta. Eu achava tudo muito lindo e poético.

Meu namorado, à época, insistia em me chamar "menina", embora fosse pouco mais velho que eu, mais jovem do que sou hoje. meu doce jurava me amar, e eu, ainda que descrente, acreditava. Eu fui um furacão de vida que arrebatou-lhe os sentidos, hoje sei, e talvez já soubesse então. Pedro dizia que eu era jovem demais para o peso da alma dele, mas eu sempre achava  - talvez na inocência que os vinte e um anos nos permitem ter - que eu suportaria qualquer peso do mundo. E a vida provou que não, pouco depois.

No dia dos namorados daquele ano, eu lhe dei um all star preto, de cano baixo. Ele me deu um livro do Calvino. Talvez isso já mostrasse o quanto nossas almas tinham pesos distintos, mas nenhum dos dois quis ver. A dedicatória deste livro é pura melancolia, e é esse o sentimento que escorre pelas cento e tantas páginas escritas.

Eu confesso que achei o livro um tanto chato. até que achei uma parte que falava de mim. Não lembro qual era a parte, confesso. talvez já nem fale de mim, hoje. mas na época, foi o que me deu força para terminar o livro, e passei a amá-lo com uma ternura morna e boa.

Hoje fui jogada lá em 2006, pra dentro deste livro. E fui jogada de forma vil, até. Arremessada inadvertidamente para dentro de um mundo de saudade e melancolia, por conta do que disse um grande afeto que me feriu e a quem feri. Por que feri? Talvez por amor demais, talvez por preocupação demais e, com certeza, pelo maior sentimento de impotência que um amigo por sentir em relação ao outro. Anita, as suas cidades eu bem conheço; a da vida real, a nossa, e aquela, do Calvino. Mas deixe: seu segredo está seguro comigo.

domingo, 31 de julho de 2011

levo no corpo a tua lembrança, e outras mais.

até que veio outra lembrança pra tomar o lugar dela,
e  como tatuagem velha,
a cicatriz que você me causou virou parte de um novo desenho.

e a gente cresce com isso. que lindo.