E pensar em voltar. Mais uma vez
Nada fazia pensar que era retorno,
uma volta ao ninho, ao passado.
Novos sonhos? Não,
Deixaria para mais
Tarde, outros verões.
Até lá,
Ouviria velhas canções,
Sonharia velhos sonhos,
Dormiria em velhas camas
Novos amores?
Já não tinha tempo para isso.
Nada mais de novidades,
Nessa vida macilenta
Homens vieram e foram
e em uma cama - de
motel ou outra - qualquer
só pensava no que me dissera
(ao pé do ouvido, em inocente
paixão) um velho amor.
Em verdade, o que mais
Me apetecia naqueles versos,
Roubados de vozes outras,
Eram as próprias palavras
Que eu deglutia voraz e
Sonhava com o dia que faria
Minha própria canção de amor
Velhas camas, velhos sonhos,
Velhos amantes...
Acordei e morria.
E então era esse o significado de
Voltar: para dentro de mi, como
A meia, que enrolamos até tornar-se
Uma bola pequenina e estranha.
Morria.
Morria o entorno. De mim,
Guardava o verdadeiro segredo:
Lá dentro, inutilmente velado
por meu próprio corpo
Morria, mas não rápido o suficiente;
Havia tempo para pensar tolices
E chorar pelos trens perdidos,
Vinhos bebidos, filhos não nascidos,
Amantes colecionados.
E como os odiava! a todos!
de que forma negociara a vida? Agora,
sob a janela imunda da qual pulara feliz
Sentia-me plena, incapaz de mover
Qualquer parte do corpo para ajudar ao
Próximo, enquanto ouvia a ambulância
Chegando - ao longe e tarde demais -
E deixava a vida com sorriso nos olhos
e lágrimas nos lábios roxos, frios e inertes.
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