quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Preciso me encontrar

do grande mestre, Cartola.

http://www.youtube.com/watch?v=HN0_mN7fWa8&feature=player_embedded#!

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar...

Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir prá não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar...

domingo, 25 de setembro de 2011

Como sempre

Ainda sinto o cheiro de cigarro na boca, entre os dedos, preso eternamente às narinas. Aquele cigarro roubado, todas as vezes, já virou marca que nos une. Da mesma forma, o gosto amargo da cerveja bebida, a cada semana, confunde nossas cabeças e faz ver mistérios onde não há.

Você, na verdade, são vocês. A noite, em verdade, são muitas noites. E os beijos e os gostos, bem, esses são muitos também. mas vocês pensam que são únicos, e eu lhes deixo crer. Deixo viverem na fantasia de que são os maiores e que me possuem. Deixo que acreditem numa paixão desmesurada. Deixo que pensem que eu sou frágil e que suas masculinidades me podem machucar.

Assim vocês se vão enredando, perdendo o senso. E, quando tu - ou seriam vocês? - acordares, ela - ou seria eu? - não estará mais ao seu lado, evaporada com a primeira luz da manhã.

Acredita, amor, que toda mulher te pode amar. Mas assim, aviso, viverás tua perdição.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Antes do amanhecer

"Na vida é assim, a gente encontra o cinismo e perde a cerveja, a decência e o copo, tudo de uma vez só."

Foi assim que ela me disse, num fim de noite num bar qualquer. Na verdade não era um bar qualquer, era um bar decente, daqueles que a gente só encontra do lado das igrejas, nos cafundós da cidade.

Ela não era bonita, e nem sabia mesmo dançar. Além disso, reclamava o tempo todo que não deveria estar ali, pois era mulher de família. Isso, entre um gole e outro de cerveja. Mas, naquela noite, ela nos tinha a todos na mão: literalmente, ela era quem pagava a bebida. E, verdade seja dita, ela até não era má companhia. Nós quatro, cheios de gana e de hormônios, queríamos muito aquela companhia, adulta e feminina, entre nós. Era possível que quem nos olhasse percebesse o brilho carniceiro que cruzava os nossos olhares, quase lascivos, quando mirávamos nossa patrona.

Mas a moça não sabia muito o que fazer, quando o fim da noite era iminente e o retorno ao lar se aproximava. Foi aí que ela se engraçou com um malandro que passava, e havia voltado a cabeça para melhor apreciar aquelas pernas dela - sim, permitam-me dizer: a danada tinha uma pernas tão compridas que pareciam capazes de abraçar o mundo. 

O vagabundo tinha jeito de quem batia em mulher. E, foi ela quem nos disse, cachorro e macho a gente reconhece pela cara. Pois aquele bem tinha cara de cachorro. Macho que eu já não sei, porque dessas coisas eu passo longe. Mas o fato é que a desgraçada olhou pra ele, olhou pra nós, aqueles quatro garotos que não sabiam nem onde se enfiar quando ela falava algum palavrão - e ela falava tantos! - e não teve dúvidas: sem pensar no marido e nas quatro crianças sujas que deixava em casa, mandou dizer pro pai que não voltava mais e subiu na moto branca do infeliz. A última coisa de que me lembro foram aquelas palavras dela, seguidas das do João Filé:

"putaqueopariu, a vagabunda levou o dinheiro e deixou a conta pra pagar"

...

Alice Maria, esse era seu nome. Ninguém nunca mais ouviu falar.



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