domingo, 29 de agosto de 2010

malditos sejam os poetas

malditos sejam os poetas
por já terem dito tudo aquilo
que eu queria dizer
por terem dito mais do que
eu sequer sonhara em dizer
malditos sejam eles,
por terem dito melhor
coisas que eu nunca poderia dizer.

Malditos sejam os poetas
por cantarem as minhas dores
por chorarem meus amores
malditos sejam os poetas
que versaram até mesmo sobre
as cartas, aquelas, ridículas,
e cantaram vasos gregos
e vozes veladas,
e noites tropicais
e viagens à Pasárgada.

malditos sejam os poetas
que cantaram os doze anos
antes mesmo de eu os ter vivido
e falaram das palmeiras
que eu nunca tinha visto
evocaram recife, o porto
as docas, as putas as carniças

malditos sejam os poetas
por terem feito tudo aquilo
que me emociona e me enche o peito
embarga a voz e escorre a lágrima
aperta o nó, embota os olhos
corre amargo e doce pela garganta
e queima no fundo do estômago
tal qual cachaça ouro
malditos sejam vocês, poetas
por tantas vezes me fazerem sorrir.