sábado, 12 de dezembro de 2009

Da arte de fingir.

Fingir é uma arte. Que me perdoem os puristas e os moralistas, mas fingir não é pra qualquer um. Há que se acreditar no fingimento, há que se respirá-lo e jurar sua veracidade, mesmo quando tudo parece apontar na direção contrária. Não se pode admitir o fingimento em hipótese alguma pois, se assim o fizer, perde-se para sempre o benefício da dúvida.

Não, não escreve aqui uma fingidora; minhas artes são precárias, nesse e nos demais campos artísticos: uma flautista débil, poetisa frustrada, narradora ineficiente, cantora sofrível, atriz precária e fingidora medíocre. Como nas demais artes não sou uma exímia executora, e considero-me antes uma "apreciadora" do fingimento alheio.

Os últimos dias, entretanto, têm desafiado meu talento artístico. Como seguir a vida quando tudo que realmente importa parece desabar?

Como levantar, ir à academia, seguir para o trabalho, decorar árvores de natal, comprar presentes, desejar boas festas, atender telefone, falar com clientes, sorrir simpaticamente, ser prestativa e fingir que está tudo bem quando, na verdade o que se sente é que o maestro da sua orquestra se perdeu completamente? Como tecer uma coberta com a sua vida se bem no meio do sossego encontramos um nó muito apertado?

Eu vejo apenas uma possibilidade: combinar a arte do fingimento com a do esquecimento. Esquecimento, sim. Não porque eu queira de fato esquecer, ou melhor não que eu queria fingir que nada aconteceu, eu preciso apenas não lembrar, durante o dia, que o mundo está suspenso por um fio. Preciso do removedor que anule a cola da preocupação, pois não há nada que se possa fazer.

E então eu finjo. Finjo, sim, mas não para os outros: finjo pra mim mesma que está tudo bem. Finjo que não tenho a mão da tristeza apertando meu coração, e que nunca vi esses capítulos do drama em minha vida. Mergulho de cabeça na vida cotidiana e esqueço que o resto está mulambento, e que anoiteceu em mim contra a vontade do dia.

Assim sigo, esperando pelo natal que vai chegar, e torcendo que com ele venha a frase que pretende ser um beijo: desculpe, eu errei.

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