terça-feira, 19 de janeiro de 2010

It's not me, its us.

O que mais quero é chegar em casa. Enquanto espero, fumo um cigarro ou dois, contando os dias pra voltar. Chegarei e baterei na sua porta. Possivelmente ela não abrirá.

Sabe Deus se haverá outra mulher a dormir na cama que acostumei a chamar de minha. Meu cheiro não está mais em cada lençol, em cada canto da sala. Minhas coisas já foram empacotadas, suas dores já foram sofridas.  Restam as minhas dores a latejar. Desculpe, mas não pude mais aguentar.

O trânsito está horrível, e chove. Minha alergia te enganará, escondendo minhas lágrimas. Sento-me ao pé da porta, esperando em vão por um abraço que não virá.

Passam as horas. Secam as lágrimas, fica o vazio. Escuto passos, os teus passos. Ergo-me e procuro ajeitar os cabelos, recompondo em vão minha figura. Tu olhas pra mim, e adivinho um sorriso, mas ele não vem. Teus olhos não mais brilham, teu corpo se crispa: não me queres ali, mendigando à tua porta.

Nenhuma palavra é trocada. Me abres a porta. Eu entro. Continuo a esperar o abraço que não vem. Espero um conforto, em vão. Não nos conhecemos mais. Não somos mais aqueles que éramos. Nossos conjuntos não mais se intercalam, não tocamos as mesmas músicas. Talvez ainda haja amor, mas ele não parece ser mais suficiente.

Me ofereces uma xícara de chá. Eu aceito. Tomamos em silêncio, olhando um ao outro, tentando enxergar naquele estranho o ser que amamos e pelo qual nutrimos tantas esperanças, fizemos planos, sonhamos juntos.  Não, as pessoas não existem mais. Procuro entender onde foi que nos perdemos. Não sabemos.

Eu não quero nada mais do que ver seu rosto quando voltar pra casa. E talvez conversemos pela tarde, talvez tomemos um chá, talvez ainda haja "nós". Eu sei que não é justo, mas não resta mais nada a fazer, agora.

Perdoa, mas não consegui aguentar. Fraqueza sempre andou junto com a força. Foi preciso força pra reconhecer minha fraqueza. E o silêncio só aumentou a distância que já havia entre nós. O medo foi a força que não nos deixou andar.


Não foi o amor que acabou, foi a dor que ganhou a corrida. O problema não é meu, não é seu. Its not me, it's us.


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(ao som de Chinese - Lily Allen)

2 comentários:

Flavia C. disse...

Menina Lara, o que dizer? Pirei com o que li. Muito bom! Sua escita poética me encanta sobremaneira. Curioso é que acabamos por expressar sentimentos semelhantes por vias literárias diversas. Lendo teu (lindo) escrito, lembrei de algo que publiquei no meu blog há uns três anos. Se quiser ler: http://crespoflavia.blogspot.com/2006/07/rquiem-para-um-amor.html
Na época gostei muito; hoje, menos. Não se termina uma história soltando fogos, nunca... mas fins são (re)começos, e (re)começar é sempre bom! Beijo!

Lamaringoni disse...

Puxa, Favia, tu não tens idéia de como essas palavras me emocionaram. Li teu texto, achei lindo demais. Como já disse aqui, tu escreves coisas que eu gostaria de escrever. E é curioso como, mal nos conhecendo, passamos por coisas parecidas e reagimos de maneiras semelhantes. Um dia irei ao Rio, espero que possamos tomar um café, um suco ou uma água de coco. Quero te conhecer mais de perto, pois o pouco que conheço, me encanta! um beijo!